Muito antes da revolução sexual, da emancipação feminina, da
participação das mulheres no mercado de trabalho, muito antes, enfim,
que os casais heterossexuais estivessem discutindo igualdade de
direitos, divisão de papeis no casamento, quais responsabilidades cabiam
a cada um na administração da vida, da casa, das contas, dos filhos, os
casais homossexuais já viviam na prática o modelo de relacionamento
igualitário. Lendo um artigo da terapeuta americana Pat Love, do site yourtango.com, vi que os casais homossexuais têm muito que ensinar aos heteros.
Lição número 1: flexibilidade. Os casais
homossexuais são por definição igualitários, e portanto não há divisão
pré-estabelecida de funções definidas pelo sexo. Nesse caso, pode acabar
virando responsabilidade de cada um o que for mais prático, mais
simpático, mais razoável, mais prazeroso. Se um dos dois, ou das duas,
tiver mais talento na cozinha, ficam a seu cargo os jantares mais
caprichados. Quem tiver mais vocação para a decoração cuida de ambientar
a casa. Quem estiver mais próximo da lavanderia busca a roupa lavada. E
por aí vai.
Lição número 2: diálogo. Por um milhão de motivos, é
mais fácil para um homem conversar com outro, e para uma mulher
conversar com outra. Então os casais gays têm mais hábito de discutir as
coisas (às vezes infinitamente, no caso das mulheres) do que os casais
hetero. A falta de comunicação leva a mal entendidos, a conclusões
erradas, a desconfiança, e isso não é bom para casal nenhum. Alô, ladies
and gentlemen: conversem mais e se entendam melhor.
Lição número 3: entendendo as diferenças. Segundo a
dra. Pat Love, os homens costumam se comunicar pelos atos, as mulheres
se comunicam pela reclamação. Assim, segundo ela, dois homens e duas
mulheres, com seus traços comuns, conseguem discutir assuntos difíceis
ou delicados de uma maneira mais saudável. Se um sexo conseguir entender
melhor o estilo do outro, é mais fácil levar adiante as discussões onde
o silêncio de um conflita com o grito do outro. As mulheres precisam
entender o silêncio dos homens como uma tomada de posição, enquanto os
homens não precisam imaginar que a reclamação da companheira é
demonstração de chatice. É só uma questão de gênero.
Lição número 4: aceitando quem não é igual. Um casal
gay une duas histórias de dificuldades, questionamentos, decepções. Em
um nível ou outro, todo gay teve um caminho complexo no desenvolvimento
da sexualidade. Enquanto 80% (90%?) de seus amigos estavam indo em uma
direção, eles estavam indo em outra. Numa em que a família não entende, a
igreja não aceita, a escola não apoia. Mesmo que no fim tudo acabe bem,
é um caminho mais tortuoso. Então os casais gays tendem a ter mais
facilidade para não julgar as escolhas dos outros, não procurar só quem é
igual, fazer um grupo de amigos mais heterogêneo. Isso certamente é
mais rico como experiência do que aqueles casais que só convivem com o
espelho, só têm amigos da mesma classe social, que dirigem o mesmo
carro, moram no mesmo bairro, matriculam as crianças na mesma escola e
viajam para os mesmos lugares.
Lição número 5: tomando posição. Essa é uma lição em
que os dois lados aprendem. Enquanto as semelhanças aproximam as
pessoas, algumas diferenças são imprescindíveis para manter a dinâmica
do casal. Quantos casais de lésbicas você já conheceu em que as duas
viraram irmãs e a chama da paixão está extinta há tempos? É que, mesmo
inconscientemente, temos na cabeça aquele modelo de que a iniciativa
sexual é uma premissa masculina. Então é preciso que a mulher, lésbica
ou não, aprenda a ser proativa sexualmente, ou vai ficar eternamente
esperando sentada fazendo a sedutora, e ninguém vai a lugar nenhum.
Seduzir e ser seduzido tem de ser um jogo em que os papéis se invertem o
tempo todo.
No caso dos gays é mais comum ter casamentos abertos. Mas aqui vale
para todos, gays ou heteros: é importante na intimidade exercitar
algumas atitudes consideradas femininas: delicadeza, preocupação,
cuidado. Por mais que seja consenso que o homem tenha uma vida ativa
fora de casa, é muito sexy tratar bem quem está com você dentro dela.
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